O Tempo Litúrgico do Advento, que há pouco iniciamos, abriu-nos as portas de um novo Ano Litúrgico. Ele é o tempo do encanto, da beleza e da alegre expectativa da visita de Deus à nossa humanidade. Ele abre-nos o Tempo da Manifestação do Salvador. O seu caráter litúrgico se apresenta como um tempo de dupla preparação: uma preparação à vinda gloriosa de Cristo (Advento escatológico), dos dias que se transcorrem entre o I Domingo do Advento e o dia 16 de dezembro, e uma preparação à sua vinda histórica, o seu Natal (de 17 a 24 de dezembro).

A oração da Igreja nos fala ainda de uma terceira vinda, mais discreta, mais constante. Trata-se da sua vinda quotidiana, na pessoa dos irmãos e irmãs, especialmente daqueles mais carentes, os pobres e desafortunados, os que habitam às margens da sociedade, os prediletos de Javé: “agora e em todos os tempos, ele vem aos nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização de seu Reino” (cfr. Prefácio do Advento I A).

O Tempo do Advento pode ser caracterizado como o tempo litúrgico eclesial por excelência, sem exceder, obviamente, ao Tempo Pascal. Aquelas virtudes que somos chamados a viver quotidianamente – espera vigilante e jubilosa, esperança e conversão –  caracterizam a espiritualidade desse tempo. A celebração desse Tempo se nutre daquela certeza de que “agora (nós o) vemos como que por meio de um espelho”, mas virá o dia em que “o veremos face a face” (I Cor 13, 12).

Os personagens principais desse Tempo são o profeta; João, o Batista, o maior de todos os profetas, a voz do que clama no deserto, convocando a todas as pessoas a preparar “uma estrada ao Senhor; e a Virgem Maria. Entre as muitas imagens usadas pelo Lecionário Bíblico para falar da conversão necessária à chegada do Salvador, a principal é a da “estrada” ou do “caminho”. Trata-se de um tema bíblico clássico, capaz de expressar todo o dinamismo da fé. A fé não entendida como uma atitude intelectual, mas como um estilo de vida onde a fidelidade à Boa Nova é traduzida como seguimento de Jesus Cristo. Nesta perspectiva, a vida cristã aparece como uma caminhada de fé inseparavelmente unida à conversão. O lugar dessa experiência de caminhada é a comunidade dos irmãos e irmãs que, como Igreja, povo de Deus em marcha, se preparam para correr pressurosos ao encontro do Senhor que vem (cfr. Coleta do II Dom. Advento).

O Senhor está perto, corramos também nós ao seu encontro com as nossas boas obras (cfr. Coletas do I e II Dom Adv). Maranathá! Vinde, Senhor Jesus.

Dom Jerônimo Pereira Silva (OSB).

Doutor em Sagrada Liturgia.
Membro do Centro de Liturgia Dom Clemente Isnard.
Mosteiro de São Bento de Olinda, PE; Istituto di Liturgia Pastorale, Pádua, Itália.