O Rito Ambrosiano[1] é um rito litúrgico latino, usado substancialmente na Arquidiocese de Milão. É essencialmente análogo ao Rito Romano, do qual se distingue em muitas particularidades, entre as quais as mais importantes são a divisão do ano litúrgico e do missal.

O Arcebispo de Milão tem (talvez o único no Ocidente, excetuando o Papa) a qualificação de liturgo por excelência. Ele é o guardião, tutor e promotor do Rito.

O Rito Ambrosiano, apesar do nome, não é um rito arquitetado por Santo Ambrósio (embora muitos detalhes remontam a ele), mas um tipo de liturgia latina (de modo semelhante ao Rito Romano) formada em torno dos séculos V-VIII.

No século VIII, o Rito Ambrosiano resistiu a uma tentativa de conglobação com o Rito Romano, realizada por Carlos Magno. O Concílio de Trento, no século XVI, havia estabelecido que todos os ritos que não contassem por pelo menos dois séculos de vida deveriam ser abolidos na Igreja latina. O Rito Ambrosiano, que contava com muito mais, não correu perigos deste ponto de vista.

O Concílio Vaticano II, na Constituição litúrgica Sacrosanctum Concilium n. 4, assim se pronuncia sobre os outros ritos ocidentais não romanos:

O sagrado Concílio, guarda fiel da tradição, declara que a santa Mãe Igreja considera iguais em direito e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos, quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos, e deseja que, onde for necessário, sejam prudente e integralmente revistos no espírito da sã tradição e lhes seja dado novo vigor, de acordo com as circunstâncias e as necessidades do nosso tempo.

 

A semana santa ambrosiana

No Missale Ambrosianum editio typica 19812 a Semana Santa é intitulada como Hebdomada in Authentica.

O Missal Ambrosiano edição típica (italiano) 1976-1986, atualizado em 1990, por sua vez, apresenta o simples título de Semana Santa.

Hebdomanda authentica ou in authentica é o nome dado aos dias feriais da Semana Santa em uso até o presente na liturgia ocidental não romana da diocese de Milão, chamada de Rito Ambrosiano. O título Hebdomanda authentica ou in authentica também foi usado na Igreja de Roma no século V. De acordo com os liturgistas de Rito Ambrosiano este “título” para a Semana Santa

  • poderia vir do grego authentes, que significa sacrifício, para indicar a semana do sacrifício (de Cristo) ou “da sua oferta de sacrifício”;
  • ou simplesmente do latim authentica, para indicar esta semana como a semana tipo/modelo ou normativa, que se reproduz nas outras semanas do ano litúrgico, especialmente na sequência morte, sepultamento e ressurreição do Senhor, que na antiguidade eram dias de jejum (sexta-feira e sábado) para a celebração dominical da Eucaristia. Pode indicar também que esta se sobressai entre todas as semanas do ano.

Este título é utilizado apenas pelos livros litúrgicos oficiais em língua latina (editio typica). Em italiano se diz ordinariamente Semana Santa (Settimana Santa), como no Rito Romano.

 

Dom Jerônimo Pereira Silva (osb).
Doutor em Sagrada Liturgia.
Membro do Centro de Liturgia Dom Clemente Isnard

 


[1] Cf. P. Borella. Il Rito Ambrosiano. Brescia: Morcelliana, 1964, p. 383-384; M. Navoni, «Settimana Santa». In: Dizionario di Liturgia Ambrosiana (DLA). M. Navoni (Ed.). Milano: NED, 1996, p. 509-524; Id. La settimana santa ambrosiana. Storia e spiritualità. Milano: Centro Ambrosiano, 1999, p. 9-10.