A liturgia, no sentido moderno do termo, nasce nos séculos XIX e XX[1] e sua primeira definição, como primeira e necessária fonte do espírito cristão constitui o denominador comum dos vários seguimentos de reformas da liturgia expressas no século XX[2].

A redescoberta da liturgia está ligada a um tema espiritual: a busca de uma identidade cristã e monástica iniciada pelos monges que viveram a experiência da guerra (1914-1918). Do período anterior à guerra se podem destacar as figuras dos belgas Dom Maurice Festugière, com a sua obra clássica de 1913 La liturgie catholique[3] e Dom Lambert Beauduin, que no ano seguinte publicará a sua obra La Piété de l’Église. Também no mundo italiano o Movimento Litúrgico (ML) apareceu nos centros beneditinos como Finalpia, Parma e Praglia[4]. Dom Lambert Beauduin na Itália virá imitado pelo Abade beneditino Dom Emmanuele Caronti, que escreverá, de maneira análoga, em 1920, a sua obra “La pietà liturgica”, coletânea de artigos com o mesmo título publicado na Revista Liturgica [5]. ML brasileiro, por sua vez, teve como fonte o ML alemão[6].

Todos os debates sobre a liturgia deste período são de natureza espiritual, e a afirmação da centralidade da liturgia na vida espiritual e eclesial do cristão se dirigiu no sentido de uma preocupação mais diretamente pastoral: o aumento da participação ativa dos fiéis. M. Paiano sublinha que

a (re) valorização da oração litúrgica já tinha sido no século anterior (século XIX) um dos principais objetivos de Prosper Guéranger […]. Essa (re) valorização foi expressa principalmente na concepção da liturgia como o principal elemento da vida monástica […]. No entanto, é inteiramente ausente em Guéranger uma reflexão que tenha como explícito objetivo os meios para aproximar os fiéis à oração litúrgica, cuja superioridade é afirmada sobre todas as outras formas de oração[7].

O ato ritual é concebido de per si como um ser espiritual, porque por “vida espiritual” se entende a vida real do batizado contemplada no seu aspecto de relação com Deus, com os irmãos e consigo mesmo. É uma vida interior porque é livre e consciente; é espiritual porque animada e conduzida sob o influxo do Espírito Santo que envolve toda a história do batizado, lida à luz do mistério pascal de Cristo[8].

Esses grandes movimentos de redescoberta do potencial da espiritualidade do rito cristão continuam a ser um espinho na carne, mesmo depois da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II (CV II). A dimensão espiritual sob muitos aspectos é ainda muito frágil e inconsistente.

A novidade mais significativa do ML foi a intenção de introduzir um valor espiritual na celebração do rito, reivindicando a favor do rito o direito de ato teológico. Na verdade, o cuidado espiritual de si mesmo, do outro, da Igreja e do mundo, procedia ordinariamente ao longo de um caminho que não dizia respeito ao rito cristão, nem mesmo minimamente, porque o rito cristão permanecia entendido como a religião exterior, as sagradas cerimônias.

A controvérsia antilitúrgica, no início do século passado, escreve Marsili, encontrou sua razão no fato, e certamente parecia uma reivindicação inadmissível que a liturgia ousasse apresentar-se como uma forma de espiritualidade[9]. O horizonte cultural e eclesial no qual surgiu o ML vivia da concepção de que onde havia rito não havia espiritualidade e onde havia espiritualidade não se precisava do rito, de modo que para se viver uma experiência espiritual não havia necessidade dos ritos[10]. O rito cristão foi colocado em uma esfera distante da experiência espiritual[11].

O Motu Proprio de Pio X Tra le sollicitudini de 1903 foi o primeiro documento pontifício a mencionar a actio litúrgica como primeira e indispensável fonte, de onde os fiéis podem se aproximar para entrar na dinâmica da espiritualidade cristã[12]. O paradigma indicado pelo papa era o da “participação ativa dos fiéis nos sagrados mistérios”[13].

Com a Mediator Dei (1947) o papa Pio XII subordina a oração privada à oração litúrgica, e no I Congresso Internacional de Liturgia Pastoral, que aconteceu em Assis, de 18 a 22 de setembro de 1956, reconhece, mesmo que timidamente, o valor inestimável do ML e da sua proposta como um sinal das providenciais disposições de Deus com respeito ao tempo presente, como um movimento, um passar do Espírito Santo na Igreja, e indica a participação ativa dos fiéis na vida litúrgica como a fonte para a vivência eficaz da fé e das riquezas da graça[14].

A genuína tradição da espiritualidade transmitida pelos Padres da Igreja, que se funda sobre a Palavra de Deus e a celebração litúrgica, obscurecida através dos séculos por uma compreensão intimista da vida espiritual, teve que esperar até que o CV II para retornar à luz e espalhar sobre a Igreja as sementes da compreensão da liturgia como o cume para o qual tende toda a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte a partir da qual emana toda a sua força (SC 10).

Talvez o âmbito da espiritualidade litúrgica seja o mais delicado e no qual somos testados e desafiados a uma conversão, não tanto de mentalidade, quanto de corporeidade. Trata-se de mudar a relação corpo/mente, não simplesmente de mudar uma mens. Na verdade, é uma pretensão da liturgia fazer-nos tornar “espirituais” com o corpo primeiro do que com a mente, com os sentidos, primeiro de que com o intelecto, com a exterioridade antes de que com a interioridade, com a intersubjetividade primeiro de que com subjetividade, com a diferença antes de que com a identidade. O “primeiro de que” não significa “em vez de”, não há oposição ou exclusão, mas integração. Ao celebrar o rito se começa uma experiência espiritual, e se cultiva esta experiência ligando a nossa espiritualidade àquela dos batizados como nós[15].

 

O paradigma da participação ativa e a compreensão da liturgia como culmen et fons 

Um dos problemas cruciais da mudança de paradigma é o de entender a participação como uma verdadeira forma de espiritualidade[16]. Participar é fazer uma experiência pessoal e comunitária de Cristo através de palavras rituais, ritos e orações, é se enxertar eclesialmente na vida de Cristo mediada por gestos, ritos, palavras etc[17].

Esta forma de abordagem ritual é para a história da espiritualidade uma grande novidade por causa do pensamento, em grande parte ainda presente, de que a liturgia seja uma coisa e a experiência espiritual uma outra[18].

Na SC o tema da relação entre liturgia e vida espiritual dos fiéis é elaborado e formulado nos números 10 e 14 e está intimamente ligado ao tema da participação ativa dos fiéis na liturgia.

O número 14 de SC indica a liturgia com o termo fonte primária e indispensável para a vida espiritual dos cristãos[19]:

É desejo ardente na mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Batismo, um direito e um dever do povo cristão, «raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido» (1 Ped. 2,9; cf. 2, 4-5).

Na reforma e incremento da sagrada Liturgia, deve dar-se a maior atenção a esta plena e ativa participação de todo o povo porque ela é a primeira e necessária fonte onde os fiéis hão de beber o espírito genuinamente cristão. Esta é a razão que deve levar os pastores de almas a procurarem-na com o máximo empenho, através da devida educação.

Esta definição aparece desde o primeiro projeto da comissão litúrgica preparatória do De Liturgia, de 10 de agosto de 1961[20]. Neste primeiro esquema a definição de liturgia como primeira e necessária fonte é colocada no artigo no qual se afirma que as devoções e exercícios piedosos devem ser imbuídos de uma mentalidade que concorde com o espírito da liturgia e esteja em relação harmoniosa, no que diz respeito ao tempo, à quantidade e à qualidade do espírito da liturgia.

Claro é que as outras formas de piedade não devem obscurecer aos fiéis a consciência de que a liturgia tem uma natureza mais elevada e que essas formas de piedade alcançam os graus de autenticidade e legitimidade somente uma vez que derivam da liturgia e a ela conduzem.

Somente a partir do segundo esquema preparatório de 15 de novembro de 1961 a declaração da liturgia como a principal fonte de espiritualidade foi incluída no prefácio do parágrafo De liturgica institutione et de actuosa partecipatione prosequendis,  que viria a ser o número 14 da Constituição conciliar, onde se coloca as formas de piedade em relação com a participação ativa dos fiéis como uma exigência intrínseca à própria natureza da liturgia e como objetivo de teor pastoral.

No número 10, a liturgia é apresentada como o cume e ao mesmo tempo a fonte da vida da Igreja.

Contudo, a Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força.

O competente e pontual esclarecimento magisterial e doutrinal da liturgia como fonte e ápice desejado pelos Padres conciliares, não se refere apenas à atividade pastoral da Igreja em geral, mas é extremamente indicativo para a vida espiritual, que tem a sua fonte na celebração litúrgica e nela também encontra o momento culminante mais expressivo[21].

Os termos “cume” e “fonte”, usados pela SC 10, dizem respeito ao sacrifício de Cristo, na sua totalidade, como mistério pascal que engloba toda a vida, não somente dos indivíduos particularmente singularizados, mas igualmente, e de modo especial, da vida que perpassa os meandros da Igreja, e se manifesta em plenitude na inter-relação insubstituível entre ação ritual (fé celebrada) e cotidianidade (fé vivida, refletida, testemunhada e transmitida). Somente esse dinâmico comércio é capaz de evitar um infantil panliturgismo ou um ritualismo depauperado de vida (dimensão antropológica do rito), tecnicamente conhecido como rubricismo.

De fato, a celebração alcança a sua autenticidade máxima quando se torna também ponto de convergência e expressão simbólico-ritual de uma vida vivida não ritualmente. Quando seus elementos (ritos e preces) espelham os dados que constituem o cotidiano histórico, político, humano e social de todos os batizados, e ao mesmo tempo os reelaboram simbolicamente, favorecendo uma releitura da história à luz do mistério celebrado. Em síntese, a celebração cristã se caracteriza como dinamismo que é, simultaneamente centrífugo e centrípeto, como movimento que vai da celebração cultual à obediência histórica e da obediência histórica à celebração cultual[22].

Tem razão Vagaggini quando reconhece que se esse conceito é aplicado seriamente, as consequências práticas na espiritualidade e na vida pastoral e missionária são enormes. Sabiamente, porém, o Concílio não tem a pretensão de indicar a liturgia como elemento que se soprepõe em sentido negativo a todas as outras atividades da Igreja, mas como o elemento que põe ordem e dá forma a todos os outros[23]. De fato, não é a liturgia a única ação da Igreja recebida como “mandatum” (mandamento), mas ela é a fonte/nascente de onde a Igreja recolhe todo o necessário para levar à plenitude o mandamento de Jesus.

A participação dos fiéis na liturgia exige deles uma postura de fé, porque nela se torna presente o mistério pascal de Cristo, de modo que cada celebração litúrgica se torna sempre um ponto de chegada e, ao mesmo tempo, um ponto de partida da vida cristã, porque a liturgia constitui uma experiência essencial para o seu testemunho e desenvolvimento[24].

É verdade que toda a atividade pastoral da Igreja não se limita à liturgia (SC 9) e é igualmente verdade que a vida espiritual dos fiéis não pode ser circunscrita à participação às ações litúrgicas (SC 12), mas não se tem  dúvida de que não há na Igreja outra realidade fora da liturgia que possa atuar como clímax, no sentido de direção para a qual se aponta toda a atividade da Igreja, e fonte, no sentido de ponto de partida de toda a vida cristã, e que seja essencial, imprescindível e geradora de vida cristã.

Obviamente, deve-se ter presente os limites nos quais transitam estas afirmações para que se evitem os perigos do maximalismo litúrgico e do panliturgismo. Quando se fala da liturgia como o cume e fonte de vida espiritual, faz-se necessário ressaltar o substrato que ela pode oferecer para promover a verdadeira experiência cristã, porém deve-se estar atento para não correr o risco de maximalismo.

A vida espiritual, de fato, embora baseada na Palavra de Deus e na liturgia, também precisa da catequese, da meditação, da oração pessoal, da caridade, da disciplina interior e de muitas outras coisas, porque é uma experiência baseada em realidades muito diferentes, mas complementares entre si.

A SC não negligencia um dos elementos fundamentais para congraçar de forma eficaz liturgia e vida espiritual dos fiéis: os protagonistas da ação litúrgica, ou o seu sujeito. Em virtude da natureza da liturgia, ação e expressão mais significativa da epifania da Igreja, o primeiro sujeito envolvido é a assembleia, daqui decorre o fato de que as ações litúrgicas não são nem de caráter privado/pessoal nem de caráter público, mas comunitário[25]. A assembleia, ou a comunidade como sujeito celebrante, é definida como povo (de Deus), santo, reunido, ordenado, e corpo de Cristo, comunidade de pessoas que escolheram livremente aderir a Cristo Jesus e de participar na atualização ritual dos eventos da salvação.

As ações litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, que é «sacramento de unidade», isto é, Povo santo reunido e ordenado sob a direção dos Bispos.

Por isso, tais ações pertencem a todo o Corpo da Igreja, manifestam-no, atingindo, porém, cada um dos membros de modo diverso, segundo a variedade de estados, funções e participação atual (SC 26).

Olhando a partir deste prisma, os fiéis individualmente, cada um sujeito/membro/agente do corpo celebrante[26], por causa de sua convocação da parte do Pai para constituir uma assembleia, para celebrar no Espírito Santo o mistério pascal de Cristo, constituem também aqueles que dialogam, com voz própria e distinta, e respondem àquele projeto de vida cristã que os envolve em primeira pessoa, onde respeitando absolutamente a sua liberdade, se predispõem a viver em Cristo o dinamismo da nova vida.

De fato, se a celebração do mistério pascal de Cristo como fonte gera o cristão, a mesma celebração como cume o pressupõe, não podendo descartá-lo[27]. Não só, tal celebração cria analogamente a comunidade dos batizados reunida em assembleia e consequentemente, para que se torne também cume daquela que a assembleia é efetivamente, a Igreja, a pressupõe exigentemente, de modo tal que, para se alcançar uma vida espiritual fundada solidamente, a presença participante e ativa à assembleia litúrgica que celebra é fundamental e indispensável[28].

A este respeito, a SC, além de colocar em evidência a natureza eclesial da Liturgia, destaca também a função ministerial que os indivíduos, reunidos em assembleia, são chamados a desempenhar na celebração litúrgica, porque a ação litúrgica diz respeito a todo o corpo da Igreja, o implica, o envolve e o manifesta.

Deste modo, a participação dos fiéis na ação litúrgica, primeira e indispensável fonte de onde se pode beber do verdadeiro espírito cristão, não pode e não deve absolutamente ser assumida como um ato legal e ritualístico. Tal participação precisa adquirir sempre mais um significado espiritual, porque o seu fim é a santificação do povo de Deus.

O mistério pascal de Cristo, celebrado per ritus et preces, define e atualiza nos vários ritos aquele modelo de vida nova proposto a todos e a cada um dos cristãos, membros da comunidade celebrante; por isso a SC se preocupou de lançar luzes sobre a forma correta de participar na celebração da liturgia, isto é, não como “estranhos ou espectadores silenciosos [… mas] com uma compreensão plena dos ritos e das preces”, isto é, conscientemente, piedosamente e ativamente (SC 48).

Quando os fiéis participam ativamente manifestam o caráter da liturgia “culto público da Igreja” e, concomitantemente, manifesta-se a presença sacerdotal de Cristo na assembleia reunida e celebrante (cf. SC 7).

Mantendo viva a memória em cada celebração litúrgica da grandeza do plano salvífico de Deus (mirabilia Dei) que encontra a sua plenitude em Cristo Jesus e prolonga-se no culto da Igreja, por meio da participação ativa e consciente cada batizado se redescobre como fazendo parte de uma assembleia que, em linha de continuidade, é efetivamente a continuação e perpetuação das assembleias litúrgicas de todos os tempos.

Em termos concretos, tal assembleia se descobre como uma manifestação visível do povo de Deus convocado e unido por Cristo Jesus. Tal assembleia é mistericamente incorporada a Cristo, no seu mistério pascal, e acolhe por meio dos sinais sacramentais a regeneração e a participação na vida de Cristo sacerdote, rei e profeta. Esta manifestação da presença sacerdotal, real e profética de Cristo se torna evidente em todas as ações da assembleia celebrante. Cristo se faz presente, e é exatamente Ele o liturgo celebrando nos atos da Igreja (cf. SC 7).

A participação na celebração do mistério pascal de Cristo é o meio de concretizar e implementar as duas principais dimensões da liturgia: aquela descendente de santificação dos homens e aquela ascendente de culto, ou seja, da glorificação de Deus (SC 10).

Então, é necessário que os iniciados façam a passagem da educação ao rito (primeira forma de catequese ritual), em que a celebração se torna cume para onde se dirige a catequese, à educação pelo rito (segunda e constante forma de catequese ritual), em que o rito se torna fonte, lugar no qual o iniciado encontra o parâmetro para a vivência cristã. Assim, a vida da graça precede a vida moral e não o contrário, exatamente porque o movimento de relação cristã é sempre do Criador com a criatura, do Amante com o amado, do Redentor com o redimido, isto é, em primeiro lugar, descendente, dom gratuito, e somente em segundo lugar ascendente, resposta gratuita pelo dom recebido (cf. SC 5).

Para se chegar à plenitude da santificação do homem e da glorificação de Deus nenhum elemento do tríplice aspecto da forma da participação litúrgica pode estar ausente. Estes aspectos são:  a ação do participar (a maneira em que se participa, e no nosso caso concreto nos concentramos sobre os aspectos do vocalizar, do comer/beber, do beijar e do insuflar ou soprar); o objeto/evento ao qual se participa (o mistério celebrado em forma de memorial) e os participantes, que são antes de tudo os fiéis, que se tornaram cada vez mais “actores-facitores” da celebração. A pessoa, na sua corporeidade, é de suma e capital importância na forma da participação ativa e frutuosa.

Dom Jerônimo Pereira Silva, OSB.
Doutor em Sagrada Liturgia.
Membro do Centro de Liturgia Dom Clemente Isnard.


[1] “É verdade que a liturgia sempre existiu na Igreja, enquanto a teologia […] ou a ciência […] litúrgica é uma realidade muito recente. Mas é também verdade que esse ‘nascimento de uma nova disciplina” representa o êxito – mas também doutra parte a causa – de uma nova percepção da própria liturgia no interno da experiência eclesial dos cristãos […]. Por essa razão não é errado considerar que a liturgia tenha nascido no século XX, não somente como disciplina de estudo teológico, mas também como nova experiência […] de realização ritual sacramental, mistérica e celebrativa com Cristo e a Igreja”. A. Grillo, La nascita della liturgia nel XX secolo. Saggio sul rapporto tra Movimento Liturgico e (post-) modernità, Cittadella, Assisi 2003, 9.

[2] M. Paiano, «La liturgia prima e necessaria sorgente», RPL 173  (1992) 25; cf. B. Neunheuser (A. M. Triacca), «Spiritualità liturgica», in Liturgia, (Dizionari San Paolo), ed. D. Sartore – A. M. Triacca – C. Cibien, San Paolo, Cinisello Balsamo 2001, 1915-1936. Para uma história política do ML ver M. Paiano, Liturgia e società nel Novecento. Percorsi del movimento liturgico di fronte ai processi di secolarizzazione, Edizioni di Storia e Letteratura, Roma 2000.

[3] M. Festugière, La liturgie Catholique. Essai de synthèse suivi de quelques dèveloppements, Abbaye de Maredsous, Belgique 1913 (trad. It. La liturgia Cattolica, ed. A. Catella – A. Grillo, Messaggero, Padova 2009).

[4] Cf. F. G. B. Trolese, «I benedettini italiani e il movimento liturgico», in Il monachesimo in Italia tra Vaticano I e Vaticano II. Atti del III Convegno di studi storici sull’Italia benedettina, Badia di Cava dei Tirreni (Salerno), 3-5 settembre 1992 , ed. F. G. B. Trolese, Badia di Santa Maria del Monte, Cesena 1995, 373-420.

[5] E. Caronti, La pietà liturgica, LICET, Torino 1920. Sobre a importância destes três nomes em particular, conferir J. J. Flores, «La partecipazione liturgica: punto di partenza del movimento liturgico», in Actuosa participatio. Conoscere, comprendere e vivere la liturgia. Studi in onore del prof. Domenico Sartori, ed. A. Montan – M. Sodi, LEV, Città del Vaticano 2002, 229-245.

[6] Cf. J. Ariovaldo, O movimento litúrgico no Brasil. Estudo histórico, Vozes, Petrópolis 1983.

[7] M. Paiano, «La liturgia prima e necessaria sorgente», 25-26.

[8] Cf. J. Gelineau, «Liturgie. III. Approches doctrinales. A. Liturgie et vie chrétienne», in Dictionnaire de Spiritualité Ascétique et Mystique. Doctrine et Histoire IX, Beauchesne, Paris 1990, 923-927.

[9] S. Marsili, «La “spiritualità liturgica” in clima di polemica», RL 61 (1974) 337; cf. L. Artuso, Liturgia e spiritualità. Profilo storico, Messaggero, Padova 2002, 123-138.

[10] Cf. S. Marsili, «La “spiritualità liturgica” in clima di polemica», 338; conferir também A. Grillo, «‘La cause de la liturgie gagne chaque jour du terrain’. Modernità, rinascita liturgica e fondamento della fede in Maurice Festugière», EO 13 (1996) 229-251.

[11] A proposta de espiritualidade litúrgica apresentada pelo mundo beneditino suscitou uma verdadeira guerra com o mundo jesuíta. Sobre a discussão gerada em torno da obra de Festugière e as reações levantadas pelo ambiente jesuíta de então, conferir A. Girolimetto, «Liturgia e vita spirituale: il dibattito sorto negli anni 1913-1914», in Liturgia: temi e autori. Saggi di studio sul Movimento Liturgico, CLV-Ed. Liturgiche, Roma 1990, 211-274. Nos anos 30, na Alemanha, nasceu uma discussão de caráter idêntico, num debate que dizia respeito não só a autenticidade do ML, mas também às propostas de reformas da liturgia que eram apresentadas pelo mesmo. A proposta de se apresentar uma piedade litúrgica como uma expressão completa e forma de vida espiritual e superior às outras formas de piedade provocou muitas discussões. As contraposições se colocavam entre a piedade objetiva e a piedade subjetiva. Cf. M. Paiano, «La liturgia prima e necessaria sorgente», 28.

[12] O tema foi retomado pelo papa Pio XI, se bem que no seu pontificado, para defender-se dos “perigos dos mundo moderno”, tenha focalizado sobre a oração pessoal e a prática devocional. O papa na Constituição apostólica Divini cultus de 20 de dezembro de 1928 faz referência à liturgia como actio sacra praecellenter e retoma a celebre frase de Pio X do Motu proprio de 1903, que defini a liturgia como principal fonte do espírito cristão. Cf. Pius Pp XI, «Constitutio apostolica Divini cultus», AAS 21 (1929) 33-41. A citação textual se encontra à página 33.

[13] Pius Pp X, «Motu proprio Tra le sollecitudini», 331. O texto italiano é considerado texto oficial, para o texto latino ver ibidem 387-395. Cf. A. Mistrorigo, «La partecipazione dei fedeli alla Liturgia nel pensiero e nell’opera dei Sommi Pontefici», in La partecipazione dei fedeli alla Messa. Dottrina e pastorale. XIII settimana siturgica nazionale, Paderno del Grappa, 10 – 13 luglio 1962, ed. CAL, Edizioni Liturgiche, Roma 1963, 11-27.

[14] Cf. Pius Pp XII, «Liturgia, Ecclesia, Christus», in A. Bugnini, Documenta pontifícia ad instaurationem liturgicam spectantia, II, Ab anno 1953 ad annum 1958, CLV-Ed. Liturgiche, Roma 1959, 46; F. Dell’oro, «Il rinnovamento della liturgia sotto il pontificato di Pio XII e Giovanni XXIII», in Assisi 1956-1986. Il movimento liturgico tra riforma conciliare e attese del popolo di Dio, Cittadella, Assisi 1987, 203-206; M. Paiano, «La liturgia prima e necessaria sorgente», 27.

[15] Â. Cardita, A experiência ritual cristã. Por uma prática teológica contextualizada e aberta, Círculo Universitário, Porto 2014.

[16] É vastíssima a bibliografia sobre o tema da actuosa partecipatio na liturgia que era a pedra de toque de todo o ML pré-conciliar e se tornou um dos temas centrais de reflexão teológico-litúrgico-espiritual-pastoral do póst-Concílio. Nos limitamos a apresentar uma bibliografia básica pré e post-conciliar do tema da participação litúrgica em geral. Pré-conciliar: E. M. Vismara, La liturgia cristiana e la partecipazione del popolo: opera di propaganda per la ristorazione liturgica in mezzo ai fedeli, Soc. Anon. Tip. Catt. Vicentini, Vicenza 1919; B. Capelle, «Que faut-il entendre par “participation active”?», in Participation active des fidèles au culte. Cours et conférences des semaines liturgiques, 11, Abbaye Mont César, Lovanio 1934, 7-19; Id., «“Mediator Dei” et la participation active», QL 31 (1950) 77-81; G. Lercaro, «Partecipazione attiva: principio fondamentale della riforma pastorale-liturgica di Pio X», in Partecipazione attiva alla liturgia. Atti del terzo Convegno Internazionale di studi liturgici. Lugano, 14-18 settembre 1953, ed. L. Agustoni – G. Wagner, Libreria Editrice Vescovile, Como 1953, 73-81; A. Graiff, «Teologia della partecipazione dei fedeli alla liturgia», in La partecipazione dei fedeli alla Messa, 29-62; L. Della Torre, «La partecipazione dei fedeli nella preghiera sacerdotale», in La partecipazione dei fedeli alla Messa, 191-218; E. Cattaneo, «L’insegnamento della storia sulla partecipazione del popolo cristiano al culto della chiesa», in La partecipazione dei fedeli alla Messa, 319-349. Post-conciliar: G. Baraúna, «La partecipazione attiva principio ispiratore e direttivo della Costituzione», in La sacra liturgia rinnovata dal Concilio, ed. G. Barúna, ElleDiCi, Torino 1964, 135-199; R. Falsini, «L’educazione liturgica e la partecipazione attiva», in Commento alla costituzione liturgica, ed. F. Antonelli – R. Falsini, Vita e Pensiero, Milano 1965, 202-203; A. M. Triacca, «La partecipazione liturgica. Spunti metodologici», in Mysterion. Nella celebrazione del mistero di Cristo la vita della Chiesa, ElleDiCi, Torino 1981, 261-287; Id., «Partecipazione alla celebrazione liturgica. Per un “bilancio pastorale” a vent’anni dalla Costituzione Liturgica», in Costituizione liturgica  «Sacrosanctum Concilium», studi, 201-224; Id., «Partecipazione», in Liturgia, 1427-1450; M. Magrassi, «La partecipazione attiva dei fedeli alla liturgia», in Una liturgia viva per una parrocchia viva. La partecipazione al mistero di Cristo. Atti della XXXIX Settimana Liturgica Nazionale, San Remo, 22-26 agosto 1988, ed. CAL, La Roccia, Roma 1989, 32-56; A. K.-Y. Chan, «La partecipazione alla liturgia», in Scientia liturgica, II, 151-166; M. Palombella, Actuosa Participatio. Indagine circa la sua comprensione ecclesiale. Apporto al chiarimento dell’interezione tra lex credendi, lex orandi e lex vivendi nei secoli XVI-XVIII, LAS, Roma 2002; «Rimanete nel mio amore». La partecipazione attiva alla liturgia. Atti del XLVI Convegno liturgico-pastorale dell’Associazione Opera della Regalità di Nostro Signore, ITL, Milano 2005; A. Grillo, «La partecipazione attiva, tema strategico della riforma liturgica. Dalla discussione preconciliare e conciliare alla problematica post-conciliare», in Liturgia e partecipazione. Forme di coinvolgimento rituale, ed. L. Girardi, Messaggero, Padova 2013, 107-130; G. Niyuhire, “Fare l’esperienza” nel rito. Contributo alla partecipazione liturgica con il supporto delle scienze cognitive, Estratto di Tesi per il conseguimento del Dottorato in Teologia con specializzazione liturgico-pastorale, Istituto di Liturgia Pastorale, Padova 2014.

[17] Cf. A. Cuva, «Per una attualizzante partecipazione dei fedeli alla liturgia. Lineamenti di pastorale liturgica alla luce della Sacrosanctum Concilium», in Actuosa participatio, 184-190.

[18] Cf. P. De Clerck, «La partecipation active. Perspectives historico-liturgique, de Pie X à Vatican II», QL 85 (2004) 11-29. Em certo sentido os escritos do então cardeal Ratzinger suscitaram novas e delicadas controvérsias em torno do tema da relação entre espiritualidade e celebração: cf. J. Ratzinger, Introduzione allo spirito della liturgia, San Paolo, Cinisello Balsamo 2001; R. Falsini, «Lo spirito della liturgia: da R. Guardini a J. Ratzinger», RPL 228 (2001) 3-7; Id., «Risposta al Cardinale J. Ratzinger», RPL 237 (2003) 70-73; P.-M. Gy, «‘L’esprit de la liturgie’ du Cardinal Ratzinger est-il fidèle au Concile, o en réaction contre?», LMD 229 (2002) 171-178; J. Ratzinger, «Réponse du Cardinal Ratzinger au Père Gy», LMD 230 (2002) 113-120.

[19] Cf. Sacrosanctum Concilium. Inter Mirifica. Testi di L. Girardi – A. Grillo – D. E. Viganò, ed. S. Noceti – R. Repole, EDB, Bologna 2014, 115-117.

[20] Para a história da redação dos referidos números e de toda a Constituição, conferir M. G. Banaño, Aspecto Generale del esquema “Sacrosanctum Concilium”, segun los pp. conciliares del Vaticano II, Facultad Teologica del Norte de España, Burgos 1972; P. Jounel, «Genèse et théologie de la Constitution “Sacrosanctum Concilium”», in La costituzione “Sacrosanctum Concilium” a vent’anni dalla promulgazione. Convegno di Studio 2-4 dicembre 1983, Pontificio Istituto Liturgico, Ateneo S. Anselmo, Ho Theológos, Palermo 1983, 5-22; V. Noé, «Storia della Costitutione liturgica. Punti di riferimento», in Costituzione liturgica «Sacrosanctum Concilium». Studi, 9-24; C. Braga, «La “Sacrosanctum Concilium” nei lavori della comissione preparatoria», in Costituzione liturgica «Sacrosanctum Concilium». Studi, 25-68; A. Bugnini, La riforma liturgica, 29-62; R. Falsini, «La liturgia come “culmen et fons”: genesi e sviluppo di un tema conciliare», in Liturgia e spiritualità, 27-49. (Texto também publicado em: R. Falsini, Nel rinnovamento liturgico il passaggio dello Spirito. Saggi raccolti in ocasione del 750 genetliaco dell’autore, ed. E. Mazza – G. M. Compagnoni, CLV-Ed. Liturgiche, Roma 2001, 289-307). Para os textos da comissão preparatória de SC, ver: A. Lameri, La «Pontificia Commissio de sacra liturgia praeparatoria Concilii Vaticani II». Documenti, testi, verbali, CLV-Ed. Liturgiche, Roma 2013. Para a sinopsi dos quatro esquemas de SC, ver: F. G. Hellín, Constitutio de Sacra Liturgia Sacrosanctum Concilium: Conclii Vaticani II Synopsis in ordinem redigens schemata cum relationibus necnon patrum oratione atque animadversiones, LEV, Città del Vaticano 2003.

[21] Cf. M. Paternoster, M. Paternoster, Liturgia e spiritualità cristiana, EDB, Bologna 2005, 67; Cf. Sacrosanctum Concilium. Inter Mirifica, 102-106.

[22] Cf. E. Ruffini, «Celebração Litúrgica», in Dicionário de Espiritualidade, ed. S. De Fiores – T. Goffi, Paulinas, São Paulo 1989, 163-169.

[23] C. Vagaggini, «Lo spirito della costituzione sulla liturgia», RL 51 (1964) 22; Id., «Natura della liturgia e la sua importanza nella storia della chiesa», in Commento alla costituzione liturgica, 190-202.

[24] M. Paternoster, Liturgia e spiritualità cristiana, 69.

[25] Cf. G. Bonaccorso, Celebrare la salvezza. Lineamenti di liturgia, Messaggero, Padova 20032, 95-107.

[26] A. M. Triacca, «Partecipazione», in Liturgia, 1441.

[27] Cf. A. Grillo, La nascita della liturgia, 168-170.

[28] Cf. Sacra Congregatio pro Cultu Divino, «Directorum de Missis cum Pueris, Pueros baptizatos», AAS 66 (1974) 32.