Novidades da Terceira Edição Típica do Missal Romano

 

Na terceira edição típica do Missal Romano (2000-2008)[1], a Solenidade da Ascensão do Senhor[2], celebrada no Brasil, como em tantos outros paises, no VII Domingo da Páscoa, foi abundantemente enriquecida de textos eucológicos. Ao formulário único das duas edições precedentes do Missal Romano (1970[3]-1975[4]), ainda em uso no Brasil[5], foi acrescentado um segundo formulário, Ad Missam in Vigilia, para ser utilizado vespere pridie solemnitatis sive ante sive post I Vesperas Ascensionis (na vespera da Solenidade da Ascensão antes ou depois das I Vésperas), como reza a rubrica do formulário (p. 423), e uma segunda Oração do Dia (Coleta), ad libitum, para o único formulário existente nas edições precedentes, de agora em diante denominado Ad Missam in Die (p. 425).

Segundo Anthony Ward, a revisão do Missal de 1970 preocupou-se, entre outras coisas, em construir um formulário de Missa para a Solenidade da Ascensão do Senhor, não prevendo, todavia, a provisão de uma Missa de Vigília para tal solenidade, que a edição do Missale Romanum de 1570[6]-1962[7] tinha incluído, herança do silêncio textual dos manuscritos do chamado Missal da Cúria, usado na corte papal antes de 1227, durante os pontificados de Inocêncio III (1198- 1216) e de Honório III (1216-1227)[8] e passada ao Missal Romano de 1474[9]. Em 1970, esses textos não foram assumidos pela revisão do Missal, em parte, talvez, porque o antigo formulário da Missa In Vigilia Ascensionis era, na verdade, uma duplicação do formulário do Quinto domingo depois da Páscoa (Dominica Quinta post Pascha), não formando um verdadeiro formulário para a ocasião. Cerca de três décadas depois, na preparação da terceira edição, a decisão de suprimir/omitir uma  Missa para celebrar a Vigília da Ascensão foi revertida, pois observou-se que a Ascensão permaneceu como a única solenidade do Senhor sem uma Missa de Vigília[10].

Tal «acréscimo/enriquecimento/recuperação» nos adverte que a Restauração Litúrgica operada pelo Vaticano II é dinâmica e está sempre em curso, além de revelar a abundância e universalidade do atual Missal em relação à sua forma anterior à Restauração de 1970. O número 50 de Sacrosanctum Concilium, ao precisar a necessidade da revisão do Ordo Missae sublinhou a imprescindibilidade não somente de simplificação, mas também referiu-se à omissão e restauração:

O Ordinário da missa deve ser revisto (Ordo Missae ita recognoscatur), de modo que se manifeste mais claramente a estrutura de cada uma das suas partes bem como a sua mútua conexão, para facilitar uma participação piedosa e ativa dos fiéis. Que os ritos se simplifiquem, bem respeitados na sua estrutura essencial; sejam omitidos todos os que, com o andar do tempo, se duplicaram ou menos utilmente se acrescentaram; restaurem-se, porém, se parecer oportuno ou necessário e segundo a antiga tradição dos Santos Padres, (ea omittantur quae temporum decursu duplicata fuerunt vel minus utiliter addita; restituantur vero ad pristinam sanctorum Patrum normam nonnulla quae temporum iniuria deciderunt) alguns que desapareceram com o tempo.

O Papa Paulo VI, ao promulgar o Missal Romano na Constituição Apostólica que traz o mesmo nome do livro (Missale Romanum), do dia 3 de abril de 1969, advertiu:

Nesta reforma do Missal Romano, além das três mudanças acima citadas ― a Oração Eucarística, o Ordinário da Missa e distribuição das Leituras ― outras partes foram revistas e consideravelmente modificadas: o Temporal, o Santoral, o Comum dos Santos, as Missas Rituais e as Votivas. Merecem particular atenção as orações, não só aumentadas em número, para que novos textos correspondessem às necessidades de hoje, como restauradas, quando antigas, segundo os textos primitivos. Por isso, acrescentou-se uma oração própria para cada dia ferial dos principais tempos litúrgicos, ou seja, do Advento, do Natal, da Quaresma e da Páscoa[11].

Com essas palavras, torna-se evidente que o atual Missal não nasce das mãos de Paulo VI. As mãos operosas do papa Montini, por meio de liturgistas espertos de todo o mundo, “ajusta[ra]m”, segundo a letra e o espírito do Concílio Vaticano II[12], o Missal promulgado em 1570-1962 pela reforma litúrgica operada pelo Concílio de Trento, acrescentando formulários de nova composição, bebendo especialmente das fontes do Concílio Vaticano II, e restaurando formulários das fontes litúrgicas antigas, ignoradas, ou não, pela reforma tridentina.

Nesse breve estudo apresentamos as fontes do formulário da Missa da Vigília e da Coleta opcional da Missa do Dia, na ordem inversa: partindo do Missal Romano, edição típica terceira, se passa às edições precedentes; destas se passa, quando necessário, ao Missal Parisiense de 1738  e às edições do Missal Tridentino (1962-1570). Então se passa à fase precedente ao Missal Tridentino: o Missal impresso de 1474. A fase imediatamente precedente é a fase dos Sacramentários germanizados, galicanizados e romanos puros[13]. Quando possível apresentaremos as fontes patrísticas e biblicas dos textos. No presente estudo, não nos ocupamos das Antífonas que compõem o formulário em análise[14]. Para tal fim é de fundamental importância dois elementos: instrumentos e fontes.

 

Instrumentos

 

Os instrumentos fundamentais para as eucologias são basicamente:

Principais:

Br Bruylants P., Les oraisons du Missel Romain. Texte et Histoire. I: Tabulæ synopticæ fontium Missalis Romani. indices. II: Orationum textus et usus juxta fontes, Centre de Documentation et d’Informa- tion Liturgiques – Abbaye du Mont César, Louvain 1952.
CO Corpus Orationum, ed. Bertrand Coppieters ‘t Wallant (CCL 160-160A-M) Brepols, Turnhout 1992-2004 (15 volumes).

 

Auxiliares:

Concordantia verbalia Missalis Romani. Partes euchologicae, T.A. Schnitker – W.A. Slaby, Aschendorff, Münster 1983.

Sodi M. – Toniolo A., Concordantia et indices Missalis Romani (Editio typica tertia), LEV, Città del Vaticano 2002.

Liturgia tridentina. Fontes – indices – Concordantia 1568-1962, ed. M. Sodi – A. Toniolo – P. Bruylants, LEV, Città del Vaticano 2010.

Sacramentarium Gregorianum. Concordantia, ed. M. Sodi – G. Baroffio – A. Toniolo, LAS, Roma 2012.

Sacramentarium Veronense. Concordantia, ed. M. Sodi – G. Baroffio – A. Toniolo, LAS, Roma 2013.

Sacramentarium Gelasianum. Concordantia, ed. M. Sodi – G. Baroffio – A. Toniolo, LAS, Roma 2014.

 

Fontes

  1. A. Missais
MR3 Missale Romanum ex decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum auctoritate Pauli PP. VI promulgatum Ioannis Pauli PP. II cura recogitum, editio typica tertia, Typis Vaticanis, Città del Vaticano 2008.
MRB Missal Romano, restaurado por decreto do sagrado Concílio Ecumênico Vaticano Segundo e promulgado pela autoridade do papa Paulo VI, tradução portuguesa da II edição típica para o Brasil realizada e publicada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica, Paulus, São Paulo 19922.
MR1975 Missale Romanum ex decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, Editio typica altera, Typis Vaticanis, Città del Vaticano 1975.
MR 1970 Missale Romanum ex decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, editio typica, Typis Vaticanis, Città del Vaticano 1970.
MR1962 Missale Romanum, editio typica 1962, ed. M. Sodi – A. Toniolo, LEV, Città del Vaticano 2007.
MP Missale Parisiense anno 1738 publici iuris factum: curantibus Cuthbert Johnson & Anthony Ward, CLV-Ed. Liturgiche, Roma 1993.
MR1570 Missale romanum. Editio princeps (1570), ed. M. Sodi – A. M. Triacca, LEV, Città del Vaticano 1998.
MR 1474 Missalis Romani editio princeps Mediolani anno 1474 prelis mandata: reimpressio introductione aliisque elementis aucta, curantibus Cuthbert Johnson osb & Anthony Ward sm, ed., Cuthbert Johnson – Anthony Ward, CLV-Edizioni Liturgiche, Roma 1996.

 

  1. Sacramentários
  2. Romanos
Ve Sacramentarium Veronense, ed. L. C. Mohlberg – L. Eizenhöfer – P. Siffrin, Herder, Roma 19943[15].
GrH Hadrianum, in Le sacramentaire Grégorien. Ses principales formes d’après les plus anciens manuscris I, ed. J. Deshusses, Presses universitaires Fribourg, Fribourg, Suisse 19923, 1-348[16].
GeV Liber sacramentorum Romanae Ecclesiae ordinis anni circuli (Gelasianum Vetus), ed. L. C. Mohlberg – L. Eizenhöfer – P. Siffrin, Herder, Roma 19813[17].

 

  1. Romano-franco-germanizados
Aug Liber Sacramentorum Augustodinensis, ed. Odilo Heiming (CCL 159B) Brepols, Turnhout 1984.
Gell Liber Sacramentorum Gellonensis: Textus, (CCL 159) ed. A. Dumas, Brepols Turnhout 1981[18].
Pad Liber sacramentorum paduensis (Padova, Biblioteca capitolare, cod. D 47), ed. A Catella – F. Dell’Oro – A. Martini, CLV – Ed. Liturgiche, Roma 2005.
SGall Das fränkische Sacramentarium Gelasianum in alamannsicher Überlieferung (Codex Sangall. No. 348, ed. Cunibert Mohlberg, Aschendorff, Münster, Westfalen 1938[19].
Tre Sacramentarium Tridentinum, ed., Ferdinando Dell’Oro – Igino Rogger, in Monumenta Liturgica Ecclesiae Tridentinae, saeculo XIII antiquora, II, A: Fontes Liturgici, Libri Sacramentorum, Società Studi Trentini di Scienze Storiche, Trento 1985.

 

In Ascensione Domini

Ad Missam in Vigília

 

Oração do Dia (Oratio. Collecta. Coleta.)

MR3 p. 423: In Ascensione Domini, Ad Missam in Vigilia, Collecta:

Deus, cuius Fílius hódie in cælos, Apóstolis astántibus, ascéndit, concéde nobis, quǽsumus, ut secúndum eius promíssionem et ille nobíscum semper in terris et nos cum eo in cælo vívere mereámur. Qui tecum[20].

SGall 773: 132. Item in Ascensa Domini ad sanctum Petrum, [Oratio]:

Deus, qui ad declaranda tuae miracula maiestatis post resurrectionem a mortuis hodie in caelos apostolis astantibus ascendisti, concede nobis tuae pietatis auxilium, ut secundum tuam promissionem et tu nobiscum semper in terris et nos tecum in caelo uiuere mereamur: per… qui cum deo patre et spiritu sancto uiuis et regnas per omnia».

Aug 777: CXLI.  Item in Ascensa Domini ad sanctum Petrum, [Oratio]:

 Deus, qui ad declaranda tua miracula maiestatis post resurrectionem a mortuis hodie in caelos apostolis astantibus ascendisti, concede nobis tuae pietatis auxilium, ut secundum tuam promissionem et tu nobiscum semper in terris et nos tecum in caelo uiuere mereamur: per:

Gell 977: CXLI (50). Ite[m] in Ascensa D[omi]ni ad s[an]c[tum] Petrum, [Oratio]:

Deus, qui ad celebranda ‹tuae› miracula maiestatis post resurrectionem a mortuis hodie in caelos apostolis adstantibus ascendisti, concede nobis tuae pietatis auxilium, ut secundum tuam promissionem et tu nobiscum semper in terris et nos tecum in caelo uiuere mereamur: per.

GeV 572: I, LXIII. Orationes et praeces in Ascensa Domini (Oratio)[21]:

Deus, qui ad declaranda tua miracula maiestatis post resurrectionem a mortuis hodie in caelos apostolis adstantibus ascendisti, concede nobis tuae pietatis auxilium, ut secundum tuam promissionem et tu nobiscum semper in terris et nos tecum in caelo uiuere mereamur: per…

A Ward identifica outros textos antigos que pairam em torno do mesmo material. Os elementos da presente Coleta, «caelos […] ascendit […] promissionem», referentes a Cristo, correspondem à fórmula «ascendit […] caelos […] promissum» do prefacio da prex eucharistica presente no Sacramentário Veronense, ancestral do nosso atual «Praefatio I de Spiritu Sancto»[22].

Não se pode afirmar com segurança que o compilador da presente coleta quisesse reportar-se a um determinado Padre da Igreja, porém é identificável no texto eucológico expressões tipicamente agostinianas[23].

A fundamentação bíblica, doutra parte, se torna muito evidente a partir de frases substancialmente evangélicas, especialmente pertinentes à promessa de uma ausência crística sempre presente, e de um reencontro na casa do Pai:

Mt 28, 19-20. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.

Jo 14, 2-3. Na casa do meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, eu vos teria dito; pois vou preparar-vos um lugar. Depois de ir e vos prepara um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, estejais também vós.

Jo 17, 24. Pai, quero que, onde estou eu, estejam comigo aqueles que me deste, para que vejam a minha glória que me concedeste, porque me amaste antes da criação do mundo.

 

Sobre as Oferendas (Super oblata. Secreta)

MR3 p. 423: In Ascensione Domini, Ad Missam in Vigilia, Super oblata.

Deus, cuius Unigénitus, Póntifex noster, semper vivens sedet ad déxteram tuam ad interpellándum pro nobis, concéde nos adíre cum fidúcia ad thronum grátiæ, ut misericórdiam tuam consequámur[24].

MP 1493: Dominica intra Octavam Ascensionis, Secreta:

Domine Iesu Christe, misericors fidelis Póntifex, qui sedes ad dexteram maiestatis in excelsis, semper vivens (…) ad interpellándum pro nobis: da nobis adíre cum fidúcia ad thronum grátiæ; ut misericórdiam consequámur et gratiam inveniamus in auxilio opportuno. Qui vivis et regnas.

O formulário para a oração «Sobre as oferendas» presente no MR3 é uma reformulação de uma oração, dita Secreta, presente no MP de 1738. Por sua vez o autor do século XVIII, grande conhecedor do estilo da eucologia romana, funda suas raízes na Sagrada Escritura para a formulação da oração.

Hb 7, 24-26. Hic autem eo quod manet in aeternum, intransgressibile habet sacerdotium; unde et salvare in perpetuum potest accedentes per semetipsum ad Deum, semper vivens ad interpellandum pro eis. Talis enim et decebat ut nobis esset pontifex, sanctus, innocens, impollutus, segregatus a peccatoribus et excelsior caelis factus.

Mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus.

Hb 4, 16 Adeamus ergo cum fiducia ad thronum gratiae, ut misericordiam consequamur et gratiam inveniamus in auxilium opportunum.

Aproximemo-nos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno.

 

Depois da Comunhão (Post communionem. Postcommunio)

MR3 p. 423: In Ascensione Domini, Ad Missam in Vigilia, Post communionem.

Quæ ex altári tuo, Domine, dona percépimus, accéndant in córdibus nostris cæléstis pátriæ desidérium, et quo præcúrsor pro nobis introívit Salvátor, fáciant nos, eius vestígia sectántes, conténdere. Qui vivit et regnat in sǽcula sæculórum[25].

MP 1738: Dominica intra Octavam Ascensionis, Postocommunio:

Quæ ex altári tuo, Domine, dona percépimus, accéndant in córdibus nostris cæléstis pátriæ desidérium, et quo præcúrsor pro nobis introívit Salvátor, fáciant nos, eius vestígia sectándo, conténdere. Per eudem Dominum nostrum.

Também essa nova oração é uma reformulação de uma oração do MP de 1738, introduzindo apenas uma pequena mudança estilística.

 

In Ascensione Domini

Ad Missam in Die

MR3 p. 425: In Ascensione Domini, Ad Missam in Die, Collecta, Vel.

Concede, quaesumus, omnipotens Deus, ut, qui hodierna die Unigenitum tuum Redemptorem nostrum ad caelos ascendisse credimus, ipsi quoque mente in caelestibus habitemus. Qui tecum.

MR1962. 1283: In Ascensione Domini, Statio ad S. Petrum, Oratio.

MR1570. 1721: In die Ascensionis, Statio ad sanctu[m] Petrum, Oratio.

MR1474. 1772: In festo Ascensionis Domini, St[ati]o ad s[anctum] Petrum, [Oratio], Item alia.

SGall 772: 132: Item in Ascensa Domini ad sanctum Petrum, [Oratio].

Aug 776: CXLI: Item in Ascensa Domini ad sanctum Petrum, [Oratio].

Gell 776: CXLI (150). Ite[m] in Ascensa D[omi]ni ad s[an]c[tu]m Petrum, [Oratio]. Item alia.

Tre 543: XCIII. In Ascensa Domini, [Oratio].

Pad 440: C. In Ascensa Domini, [Oratio].

GrH 497: 108 In Ascensa Domini, [Oratio].

Concede quaesumus omnipotens deus, ut qui hodiema die unigenitum tuum redemptorem nostrum ad caelos ascendisse credimus, ipsi quoque mente in caelestibus habitemus. Per dominum.

Essa coleta funda suas raízes no Sacramentário Gregoriano Adrianeu, um livro tipicamente papal. Permanecendo ilesa, fez um longo percurso, na Alta e Baixa Idade Média, passando do Sacramentário romano puro aos sacramentários galicanizados e germanizados. Através do MR de 1474 foi acolhida no MR de 1570-1962. Não encontrando acolhida nas edições típicas do MR de 1970 e 1975 foi reintroduzida no MR3[26]. Das quatro orações que compõem o formulário para a Missa do Dia da Ascensão, essa é a única que se encontrava no formulário correspondente no MR 1570-1962.

O formulário da Missa da Vigília da Ascensão do Missal de 1570-1962 foi conservado no Missal restaurado (1970-2008), exceto a Post Communio, sem alteração textual.

 

                          MR 1570-1962                                      MR 2000-2008

 

 

Col.

Deus, a quo bona cuncta procédunt, largíre supplícibus tuis: ut cogitémus, te inspiránte, quæ recta sunt; et, te gubernánte, eadem faciámus. Per Dóminum  

Dominica X “Per Annum”

 

SO

Súscipe, Dómine, fidélium preces cum oblatiónibus hostiárum: ut, per hæc piæ devotiónis offícia, ad cœléstem glóriam transeámus. Per Dóminum.  

Dominica X “Per Annum”

 

Com.

Tríbue nobis, Dómine, cœléstis mensae virtúte satiátis: et desideráre, quæ recta sunt, et desideráta percípere. Per Dóminum.

 

 

Breve conclusão

 

* A Solenidade da Ascensão do Senhor, no Missal Romano edição típica terceira, foi enriquecida com a recuperação de uma Missa para a Vigília, a ser celebrada antes ou depois das I Vésperas.

* Tal Solenidade dispõe de quatro novas orações, a saber: duas Coletas, uma Oração sobre as Oferendas e uma Oração para depois da Comunhão; além de duas novas Antífonas: da Entrada e da Comunhão.

* O novo formulário é novo. Não se reportou simplesmente ao do Missal de 1570-1962, porque aquele se tratava de uma duplicação e não de um formulário próprio.

* É a primeira vez na história dos livros litúrgicos romanos que se tem um formulário específico para a Missa da Vigília da Ascensão do Senhor.

* As fontes litúrgicas dessas Orações são variadas; ao menos duas delas procedem dos antigos Sacramentários romanos puros.

* Algumas orações têm como fonte o Missal Parisiense do século XVIII, o que nos fala da “catolicidade” do Missal do pós-Concílio Vaticano II.

* As orações que compunham o antigo formulário (1570-1962) foram conservadas integralmente, exceto uma, no processo de atualização do Missal Romano.

 

[1] Missale Romanum ex decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum auctoritate Pauli PP. VI promulgatum Ioannis Pauli PP. II cura recogitum, editio typica tertia, Typis Vaticanis, Città del Vaticano 2008.

[2] Para uma visão geral da história dessa solenidade, cfr.: M. Righetti, Manuale di Storia Liturgica, II, L’anno Liturgico. Il Breviario, Àncora, Milano 19693, 301-308.

[3] Missale Romanum ex decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, editio typica, Typis Vaticanis, Città del Vaticano 1970

[4] Missale Romanum ex decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, Editio typica altera, Typis Vaticanis, Città del Vaticano 1975.

[5] Missal Romano, restaurado por decreto do sagrado Concílio Ecumênico Vaticano Segundo e promulgado pela autoridade do papa Paulo VI, tradução portuguesa da II edição típica para o Brasil realizada e publicada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica, Paulus, São Paulo 19922.

[6] Missale romanum. Editio princeps (1570), ed. M. Sodi – A. M. Triacca, LEV, Città del Vaticano 1998.

[7] MR1962 Missale Romanum, editio typica 1962, ed. M. Sodi – A. Toniolo, LEV, Città del Vaticano 2007.

[8] Van Dijk E. J. P. – Walker J. H., The Ordinal of the Papal Court from Innocent III to Boniface VIII and Related Documents, The University Press, Fribourg 1975, 309. A rubrica traz a introdução do Introito: Vocem iocunditatis, e da Coleta: Deus a quo cunctas bona procedunt.

[9] MR 1474, 229. Missalis Romani editio princeps Mediolani anno 1474 prelis mandata: reimpressio introductione aliisque elementis aucta, curantibus Cuthbert Johnson osb & Anthony Ward sm, ed., Cuthbert Johnson – Anthony Ward, CLV-Edizioni Liturgiche, Roma 1996.

[10] Cf. A. Ward, «The orations for the solemnities of the Ascension and Pentecost», EL 124 (2010) 219-247.

[11] Paulo VI, «Constitutio Apostolica Missale Romanum», AAS 61 (1969) 221.

[12] Para a história da reforma do Missal Romano, conferir: A. Bugnini, La riforma litúrgica (1948-1975), CLV – Ed. Liturgiche, Roma 19972, 332-479; M. Barba, La riforma conciliare dell’«Ordo Misse». Il percorso storico-redazionale dei riti d’ingresso, di offertorio e di comunione. Nuova edizione totalmente rivista, ampiamente integrata e diffusamente aggiornata, CLV – Ed. Liturgiche, Roma 2008; Il messale romano. Tradizione, traduzione, adattamento, Atti della XXX Settimana di Studio dell’Associazione Professori di Liturgia, Gazzada, 25-30 agosto 2002, ed. C. Giraudo, CLV – Ed. Liturgiche, Roma 2003; Raffa V., Liturgia eucaristica. Mistagogia della messa: dalla storia e dalla mistagogia alla pastorale pratica. Nuova edizione ampiamente riveduta e aggiornata secondo l’editio typica tertia del Messale Romano, CLV – Ed. Liturgiche, Roma 2003.

[13] Cf. E. Alberich, «El misterio de la Ascención en los antiguos sacramentarios romanos», Revista Española de Teología 28 (1968) 133-157.

[14] Fontes para  o estudo do Antifonário (Cânticos): Instrumentos: Ordo Cantus Missae, Missale Romanum ex decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, Editio Typica altera, LEV, Città del Vaticano 1987; G. Milanese, Concordantia et instrumenta lexicographica ad Graduale Romanum pertinentia, præfata est M. Ferrari, Editrice Liguria, Genova – Savona 1996[14] (Concordância de todas as palavras presentes nos cânticos da Missa publicados tanto no Graduale Romanum de 1974, quanto no Antiphonale Missarum Sextuplex). Fontes medievais: Antiphonale Missarum Sextuplex, ed. R. J. Hersbert, Herder, Rome 1935. Edições: Graduale Romanum Sacrosanctae Romanae Ecclesiae. De tempore et de sanctis. SS. D. N. Pii X pontificis maximi. Jussus restitutum et editum. Cui addita sunt festa novissima; Typis Vaticanis, Romae 1908; Graduale Romanum Sacrosanctae Romanae Ecclesiae. De tempore et de sanctis. SS. D. N. Pii X pontificis maximi. Iussus restitutum et editum ad exemplar editionis typica concinnatum et rhythmicis signis a solesmensibus monachis. Diligenter ornatum. Desclée & Socii, S. Sedis Apostolicae et Sacrorum Rituum Congregationis Typographi, Parisiis – Tornaci – Roma – Neo Eboraci 1961; Graduale Romanum Sacrosanctae Romanae Ecclesiae. De tempore & de sanctis. Primum sancti Pii X iussu restitutum & editum, Pauli VI pontificis maximi cura nunc recognitum, ad exemplar “Ordinis Cantus Missae” dispositium, & rhythmicis signis a solesmensibus monachis diligenter ornatum, Solesmis, Solesmis 1974; Graduale Romanum Sacrosanctae Romanae Ecclesiae. De tempore & de sanctis. Primum sancti Pii X iussu restitutum & editum, Pauli VI pontificis maximi cura nunc recognitum, ad exemplar “Ordinis Cantus Missae” dispositium, & rhythmicis signis a solesmensibus monachis diligenter ornatum, Solesmis, Solesmis 1979; Graduale Simplex, editio typica altera, LEV, Città del Vaticano 1975 (Reimpressão 2007); Offertoriale Triplex cum versiculis, Solesmis, Solesmis 1985.

[15] Tipicamente romano. Trata-se do “livro litúrgico” romano mais antigo que chegou aos nossos dias. Do IV século em diante, as comunidades cristãs começaram a munirem-se de libelos. No Ocidente foram de máxima importância os libelli Missarum de S. João do Latrão, que tinham como autores, os próprios bispos de Roma. Esses libelos foram reunidos entre 558 e 590 em um códice que atualmente se encontra na biblioteca capitular de Verona (Itália), chamado Sacramentário Leoniano, por ter sido considerado uma composição do papa São Leão Magno (440-461). Descobriu-se depois que a obra foi composta por muitas mãos:  além do papa Leão, o papa Gelásio I (492-496) e o papa Virgílio (537-555). Originariamente era uma composição para o uso papal, mas depois foi modificado para o uso presbiteral nas igrejas titulares de Roma.

[16] Sacramentário tipicamente romano. Atribuído ao papa Gregório Magno (590-604), na verdade foi redigido no tempo do papa Honório (625-638). O Sacramentário Gregoriano tem dois tipos principais: O Adriano e o Paduano. O Adriano: assim chamado porque provém de uma cópia do autêntico Sacramentário gregoriano que o papa Adriano I (772-795) mandou entre 780 e 785 a Carlos Magno (742-814) que lhe havia pedido e o conservou em Aquisgrano.

[17] Trata-se de um livro misto, com elementos papal e presbiteral. É um livro tipicamente romano (Gelasiano Vetus – Presbiteral), usado pelos presbíteros da diocese de Roma, datado em torno do ano 650, que emigra para a França onde sofre intervenções, ditas galicanas, com o acréscimo de ritos tipicamente episcopais (Ritos de ordenação; de dedicação da igreja e do altar; de consagração das virgens; de bênção da água lustral, fúnebres). Transcrito por volta de 750, perto de Paris. Atribuído erroneamente ao papa Gelásio I († 496), por isso chamado Gelasiano.

[18] Sacramentário do fim do VIII séc. Provavelmente originário de Saint-Croix (Meaux – Norte da França) passou no IX séc. a Gellone, localizado na atual França Meridional. São muitos os sacramentários denominados Gelasianos do séc VIII. Trata-se de uma série de sacramentários, ou coletâneas de Missalia regis Pipini. Parece tratar-se de uma fusão entre a estrutura gregoriana de tipo paduano com textos gelasianos (Vetus): Gellone (770-780)

[19] Originário de Chur (Coira – Suíça) é um Sacramentário do VIII-IX séc. Confeccionado sob o governo do Bispo Remedius (796-806) que no IX séc. passou para o mosteiro de Santo Galo. É um dos principais Sacramentários de tipo Gelasiano Misto. Foi retocado para se adaptar ao Gregoriano.

[20] V. Pavan, «A proposito della riforma liturgica e del senso dinamico dell’antica colletta», Vetera Christianorum 25 (1988) 677-687.

[21] Os revisores do MR3, chegaram à essa fonte provavelmente por meio de um formulário do MP de 1738: «Concede nobis, quaesumus Domine, per haec mysteria quae sumpsimus, tuae pietatis auxilium, ut secundum tuam promissionem, et tu nobiscum semper maneas in terris, et nos tecum in coelo vivere meramur. Qui tecum vivit et regnat». MP 1483: In Ascensione Domini, Postocommunio.

[22] “UD. Qui, ascendit super omnes caelos sedensque ad dexteram tuam, promissum Spiritum Sanctum in filios adoptionis effudit…”: Ve 202: X, I. In Pentecosten ascendentibus a Fonte, [Prex]: Sacramentarium Veronense, ed. L. C. Mohlberg – L. Eizenhöfer – P. Siffrin, Herder, Roma 19943.

[23] S. Augustinus Hipponensis, «Sermo 263/A: De Ascensione Domini», in Discorsi IV/2 (230-272/B) Su i tempi liturgici, ed. P. Bellini – F. Cruciani – V. Tarulli, Città Nuova, Roma 1984, 904-905. Cfr.: M. Havard, «Les messes de saint Augustin. Centonisations patristiques dans les formules liturgiques», in Les origines liturgiques, ed. F. Cabrol, Letouzey, Paris 1900, 243-280. 281-316.

[24] J. A. Gracía Gimeno, Las oraciones sobre las ofrendas en el Sacramentario Leoniano, Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Instituto “Francisco Suárez”, Madrid 1965.

[25] R. Falsini, I postcommuni del Sacramentario Leoniano. Classificazione, terminologia, dottrina, Pontificium Athenaeum Antonianum, Roma 1964.

[26] Cf.  M. Barba, «Il Temporale, l'”Ordo Missae” e il Santorale del nuovo “Missale Romanum», EL 116 (2002) 336.

 

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