No próximo dia 26 de fevereiro, com a solenidade de Quarta-feira de Cinzas, iniciaremos o Tempo da Quaresma e, com ele, o Ciclo Pascal. Vale a pena, primeiramente, fazer a distinção entre tempo e ciclo. Quando falamos de ciclo, referimo-nos a algo mais amplo, que compreende um tempo de preparação para uma festa, o dia da festa propriamente dito e um tempo de prolongamento desta festa. Assim, podemos definir o Ciclo da Páscoa como sendo o Tempo da Quaresma (tempo de preparação), o Tríduo Pascal (que culmina com o Domingo de Páscoa) e o Tempo Pascal (que se encerra com a solenidade de Pentecostes). Entender este itinerário litúrgico é fundamental para bem compreendermos o sentido de cada celebração ao longo deste período.

Sobretudo neste Ano A, as leituras do Tempo da Quaresma nos apresentam um conteúdo fortemente batismal, resgatando o sentido original deste tempo: a preparação dos catecúmenos que serão batizados na noite da Vigília Pascal. Encontramos, por exemplo, Jesus que se revela como a água viva (3º domingo), que cura a cegueira do farisaísmo (4º domingo) e que se mostra como o penhor da vida eterna, ao ressuscitar o amigo Lázaro (5º domingo).

É importante lembrar que o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, embora tenha uma dinâmica diferente dos domingos anteriores, ainda faz parte do Tempo da Quaresma. Neste dia, recordamos a exaltação a Cristo como o Messias, exaltação esta que se completa no momento de sua total entrega ao Pai, pela cruz.

Para a Igreja no Brasil, oportunamente, temos a Campanha da Fraternidade, que integra a Quaresma como uma proposta de gesto de caridade. Para este ano, a CNBB nos propõe o tema “Fraternidade e vida: dom e compromisso”, com o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34)”. A Campanha da Fraternidade é sempre uma oportunidade de aprimorarmos nossa caminhada de conversão e prática da misericórdia, à luz da pedagogia quaresmal e atentos às necessidades do nosso povo.

Iniciando a Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa, encerramos o Tempo da Quaresma e adentramos ao Tríduo Pascal (coração do ano litúrgico), no qual vivenciamos o mistério da cruz do Senhor em sua totalidade. A antífona de entrada da Missa da Ceia do Senhor nos apresenta o motivo principal desta que é, na verdade, uma única celebração em três dias: “A Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória: nele está nossa vida e ressurreição; foi ele que nos salvou e libertou” (Gl 6,14). Após a ceia pascal, celebramos com grande despojamento o sacrifício de Cristo até as últimas consequências, com sua morte na cruz. Transcorrido o silêncio do Sábado Santo, eis que a solene Vigília Pascal recorda-nos toda a História da Salvação, que se consolida com a ressurreição do Senhor; e o Domingo de Páscoa confirma-nos a vitória de Cristo sobre a morte, razão pela qual a Igreja exalta de alegria: “este é o dia que o Senhor fez para nós!” (Sl 117).

E desta forma, damos início ao Tempo Pascal, que se estende até a Solenidade de Pentecostes, prolongando por 50 dias a alegria da ressurreição. Este período, que deve ser celebrado como se fosse um único dia festivo, é também a Páscoa (passagem) da Igreja para uma vida nova junto ao Senhor ressuscitado, superando a escravidão do pecado, da injustiça e da opressão. Na última semana do Tempo Pascal, entre as solenidades da Ascensão do Senhor e de Pentecostes, somos também convidados a orar pela unidade dos cristãos, conforme vontade manifestada pelo próprio Cristo, antes de partir para a casa do Pai: “que todos sejam um” (Jo 17,21).

Que a vivência deste grande ciclo nos impulsione, cada vez mais, a atitudes de conversão, paz, diálogo e acolhimento, motivando-nos sempre à unidade e ao serviço. Assim, sempre que celebrarmos a memória da Páscoa do Senhor, possamos promovê-la em nosso dia a dia!

Adenor Leonardo Terra é mestre em Música e doutorando em Teologia na Faculté de Théologie et de Sciences Religieuses, Université Laval.