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Com o Domingo de Ramos da Paixão do Senhor começamos a Celebração da Páscoa na Semana Santa. Ao povo fiel vem dada a oportunidade de imergir a própria existência no mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.

Não se trata, portanto, de uma simples recordação, mas da celebração memorial dos mistérios que nos trouxeram vida nova.

Existia um contexto de espera da parte de vários grupos pela realização messiânica. Entre eles, os discípulos de Jesus que possuíam um protótipo de messianismo, de reinado muito distante do dinamismo humilde do Servo sofredor e obediente aclamado triunfante sobre um simples “jumentinho” (cf. Lc 19,35). Ele será um Messias que reina da cruz.

Para explicitar a entrega obediente de Cristo, nesta semana, os quatro cânticos de Isaias acompanharão a Igreja até a sexta-feira Santa: Is 42,1-7 (segunda-feira santa), Is 49,1-6 (terça-feira santa), Is 50,4-9 (quarta-feira santa) e Is 52,13- 53,12 (sexta-feira santa).

Para além dos textos bíblicos e eucológicos deste domingo, uma fonte abundante de teologia litúrgica, portanto de espiritualidade, um gesto se destaca: a procissão solene com a qual se comemora a entrada do Senhor em Jerusalém (Paschalis Sollemnitatis,[1] 29).

Já sabemos que no universo do rito, componente indispensável na celebração, nenhum gesto pode ser desconsiderado. Tudo está em sintonia. Por menor e mais simples que nos possam parecer, os gestos são sempre eloquentes e manifestam uma verdade que é professada seja verbalmente que gestualmente. A procissão de Domingo de Ramos torna-se um desses gestos humanos (caminhar) que em contexto celebrativo, assume valência de signa, e expressa um significado ao nos colocar em relação direta com o evento salvífico.

A monição que introduz a primeira forma: procissão solene, usa o verbo imitar (imitemur). O caráter mimético não esvazia a força memorial do gesto, que para maior vivência, deveria ser feito “antes da missa com maior afluência de povo (…) numa igreja menor ou noutro lugar adaptado, fora da igreja para a qual a procissão se dirige” (Paschalis Sollemnitatis, 29). A procissão litúrgica deste dia não é um simples aparato ritual.

A imagem é eloquente: o povo de Deus em statio (parada), escuta a Palavra de Deus, se põe em caminho, com ramos nas mãos e vai aclamando: Hosana nas alturas (I antífona), Bendito o que nos vem (II antífona) ou Glória, louvor, honra a ti (Hino a Cristo Rei). As várias versões dos cânticos desta procissão deveriam expressar a mesma realidade. O caráter aclamativo está associado à glória de Cristo crucificado.

A leitura da Paixão do Senhor, que dá título também a este domingo, se reveste de particular expressividade. Seu significado está presente já na antiquíssima oração do dia (Sacramentarium Gelasianum Vetus, XXXVII): “… para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória”.

Celebremos com fervor. Somos povo de Deus em caminho. Nós vamos a Jerusalém!

[1] Congregação para o Culto Divino. Paschalis Sollemnitatis: A Preparação e Celebração das Festas Pascais, 16 de janeiro de 1988.

Francisco Inácio Vieira Junior é presbítero salesiano, mestre em Sagrada Liturgia e membro do Centro de Liturgia Dom Clemente Isnard.